O autor, ao referir-se à terceira dimensão da alfabetização científica, "uma compreensão sobre o impacto da ciência e a tecnologia sobre os indivíduos e sobre a sociedade", não utilizou o termo LETRAMENTO, como temos discutido aqui e presencialmente.
O conceito de ATITUDE CIENTÍFICA (parece ter sido cunhado por Jhon Dewey) é importante para lembrar que a cultura científica pode ser percebida em comportamentos adquiridos pelo sujeito social.
O conceito de alfabetização científica
Para abordar o tema da alfabetização científica, portanto, é necessário definir em primeiro lugar o conceito de alfabetização.
Face às diferenças entre as propostas teóricas, a alfabetização pode definir-se como o nível mínimo de habilidades de leitura e escritura que um indivíduo deve ter para participar da comunicação escrita. Este conceito se apresenta como uma dicotomia, justamente por que define uma medida limite que separa dois estados. A definição deste valor limite é subjetiva, mas há um consenso a respeito das habilidades, por general situadas em um mesmo domínio do saber, e dos conhecimentos necessários para estabelecer uma funcionalidade mínima. Também é importante comentar o conceito de alfabetização funcional, definida como o conjunto de habilidades mínimas necessárias para que o cidadão opere na sociedade contemporânea. Cabe notar que qualquer definição de alfabetização é inerentemente associada à sociedade que a utiliza, devido à diversidade de sistemas sociais e econômicos existentes no mundo (MILLER, 2000a).
Desta maneira, a alfabetização científica se define como o nível mínimo de compreensão em ciência e tecnologia que as pessoas devem ter para operar nível básico como cidadãos e consumidores na sociedade tecnológica.
Segundo a proposta de Miller (2000b), o conceito de alfabetização científica implica três dimensões.
A primeira consiste de um vocabulário básico de conceitos científicos, suficiente para que possa ser percebida a existência de visões contrapostas em um uma notícia de jornal ou artigo em revista. Trataria-se de um "vocabulário científico mínimo", incluindo termos básicos como "átomo", "molécula", "célula", "gene", "gravidade", "radiação".
Em segundo lugar, uma compreensão da natureza do método científico, permitindo a distinção entre ciência e pseudociência e o acompanhamento de controvérsias científicas.
E por último, uma compreensão sobre o impacto da ciência e a tecnologia sobre os indivíduos e sobre a sociedade. Este terceiro ponto varia grandemente entre países e para a realização de comparações em estudos internacionais se utiliza uma abordagem bidimensional ao conceito, utilizando somente as duas primeiras dimensões. A obtenção de um nível razoável em cada uma destas três dimensões proporcionaria um nível de competência suficiente para a compreensão e seguimento de temas relacionados com a ciência e a tecnologia nos meios de comunicação (MILLER, 2000a).
Já outra dimensão adicional, menos explorada, é a existência de uma atitude científica, definida como uma boa disposição para mudar de opinião com base em novas provas, a busca da verdade sem prejuízos, o entendimento das relações de causa-efeito e a predisposição de adquirir um hábito de somente realizar julgamentos a partir de feitos concretos
Pese a existência de múltiplas definições, com variações históricas do conceito, a noção clássica de alfabetização científica está relacionada com a questão de compreender conceitos e princípios científicos, em outras palavras, com uma questão cognitiva. Na prática esta abordagem vê-se refletida na construção de indicadores de percepção pública da ciência e da tecnologia, que tem como objetivo sondar o estado da opinião pública em quanto ao interesse, conhecimento e atitudes frente a estas atividades, e conseqüentemente, com as políticas públicas neste setor. Este tipo de pesquisa se utiliza, portanto, para a medição de indicadores das atitudes dos membros da sociedade ante o financiamento público da ciência e a confiança na comunidade científica, além da percepção dos riscos e benefícios associados à ciência e à técnica. A National Science Foundation (NSF), nos Estados Unidos, consolidou uma base metodológica, utilizada na atualidade por outros países utilizando justamente esta conceituação da alfabetização científica.
http://www.jornalismocientifico.com.br/revista1artigomarcelosabbatini.htm
Um comentário:
No meu ver, a atitude científica é um sim (ou um não) decorrente de uma crítica, que decorreria de um letramento.
Jurema
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