5.27.2006

Iletramento - Discussão de 26/05

Andreia Assis disse...

Em relação ao debate de hj sobre o texto da TFOUNI acho que houve um equivoco de interpretação. No debate, ficou parecendo que a autora disse que não existe iletramento enquanto a mesma propõe que não deva ser usado o termo “iletramento”.Não existir é uma coisa e não ser adequado o termo é outra. O que se propõe é o uso de termos próprios, do tipo: níveis ou graus de letramento.

Levando assim, em consideração o que Paulo Freire muitas vezes insistiu em sua pedagogia “de que a leitura do mundo precede a leitura da palavra”, e ainda, “o ato de aprender a ler e escrever deve começar a partir de uma compreensão muito abrangente do ato de ler o mundo, coisa que os seres humanos fazem antes de ler a palavra”. Isso quer dizer que o indivíduo não é um depósito vazio e zerado antes da alfabetização, e ali, nós, educadores, estaremos enchendo-o com informações mecânicas e institucionais, através de uma escolarização. Ele já possui sua peculiar capacidade de leitura dentro do seu contexto social para sobreviver em meio ao grupo em que vive. A alfabetização com a prática do letramento, trará ao indivíduo capacidades, competências, habilidades diversas para que este se envolva com as variadas demandas sociais de leitura e escrita.

EM RELAÇÃO AO DEBATE DE DISSOCIAÇÃO ENTRE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO:

“Dissociar alfabetização e letramento é um equívoco porque, no quadro das atuais concepções psicológicas, lingüísticas e psicolingüísticas de leitura e escrita, a entrada da criança (e também do adulto analfabeto) no mundo da escrita se dá simultaneamente por esses dois processos: pela aquisição do sistema convencional de escrita – a alfabetização, e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita – o letramento. Não são processos independentes, mas interdependentes, e indissociáveis: a alfabetização se desenvolve no contexto de e por meio de práticas sociais de leitura e de escrita, isto é, através de atividades de letramento, e este, por sua vez, só pode desenvolver-se no contexto da e por meio da aprendizagem das relações fonema-grafema, isto é, em dependência da alfabetização.”Magda Soares. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. 26ª Reunião Anual da ANPED – GT Alfabetização, Leitura e Escrita. Poços de Caldas, 7 de outubro de 2003.
3:21 PM, Maio 26,

Eler disse

Oi, Andreia,
Obrigada por trazer a questão para o webfólio ;-)

Nós, em momento algum, dissociamos alfabetização de letramento. Enfatizamos que são ações complementares, embora até a própria Magda Soares coopere para que está confusão seja feita:

"Ainda hoje há quem prefira a palavra alfabetismo à palavra letramento - eu mesma acho alfabetismo uma palavra mais vernácula que letramento, que é uma tentativa detradução da palavra inglesa literacy , mas curvo-me ao poder das tendências lingüísticas, que estão dando preferência a letramento. Analfabetismo é definido como o estado de quem não sabe ler e escrever; seu contrário, alfabetismo ou letramento, é o estado de quem sabe ler e escrever. Ou seja: letramento é o estado em que vive o indivíduo que não só sabe ler e escrever, mas exerce as práticas sociais de leitura e escrita que circulam na sociedade em que vive: sabe ler e lê jornais, revistas, livros; sabe ler e interpretar tabelas, quadros, formulários, sua
carteira de trabalho, suas contas de água, luz, telefone; sabe escrever e escreve cartas, bilhetes, telegramas sem dificuldade, sabe preencher um formulário, sabe redigir um ofício, um requerimento.

A autora Leda Verdiani Tfouni não diz que não existe ILETRAMENTO, ela diz que NÃO EXISTEM ILETRADOS em SOCIEDADES TECNOLOGIZADAS. Abaixo o texto na íntegra:

Para Leda Verdiani Tfouni, o termo “iletrado”, bem como “iletramento” é impraticável, no que diz respeito à sociedades tecnologizadas.


"Ela [Leda Verdiani Tfouni] registra em sua obra algumas passagens de Ginszburg (1987), dentre elas a história de um homem que viveu no séc. XVI chamado Menocchio que foi perseguido, torturado, e condenadoà morte porque suas idéias foram consideradas ofensivas e cheias de heresias. Ele pertencia àclasse subalterna, mas sabia ler e escrever, o que não era muito comum naquela época.Comenta a autora que Menochio não foi condenado apenas por saber ler e escrever, mas sim, porque fazia suas próprias interpretações dos textos bíblicos e da religião, como também particularizou a releitura dos mesmos textos com “materialismo elementar, instintivo, das gerações de camponeses”, foi isto o que fomentou uma sumária perseguição por parte da Inquisição.Achavam eles que, só os eclesiásticos católicos detinham o poder de interpretação da Bíblia Sagrada. Ele, assim, foi considerado perigoso por que entendeu que quem tivesse a capacidadede domínio e transmissão da cultura escrita teria o poder. A lingüista comenta que essa história demonstra como o termo “letrado” não pode ter um sentido único.A partir disso, é que a autora conclui e propõe que não deve ser usado o termo “iletrado”, para dizer que umindivíduo não está num estado pleno de letramento. Afinal, não seria adequado a utilização do mesmo em uma sociedade considerada moderna e/ou industrializada, centrada na escrita, pois a possibilidade de existir indivíduos que não possuem nem um grau sequer de letramento é quase impossível. Por isso, acredita-se que é inconveniente afirmar que existe“nível zero” de letramento, não há veracidade nessa afirmação. Então, oque se propõe é o usode termos próprios, do tipo: níveis ou graus de letramento.

Magda Soares:


[A cada momento, multiplicam-se as demandas por práticas de leitura e de escrita, não só na chamada cultura do papel, mas também na nova cultura da tela, com os meios eletrônicos", diz Magda, professora emérita da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). "Se uma criança sabe ler, mas não é capaz de ler um livro, uma revista, um jornal, se sabe escrever palavras e frases, mas não é capaz de escrever uma carta, é alfabetizada, mas não é letrada", explica. Para ela, em sociedades grafocêntricas como a nossa, tanto crianças de camadas favorecidas quanto crianças das camadas populares convivem com a escrita e com práticas de leitura e escrita cotidianamente, ou seja, vivem em ambientes deletramento.]


Temos então a proposta de GRAUS DE LETRAMENTO. Uma pessoa que possui grau zero de letramento é o quê? ILETRADA. Seria o caso de uma pessoa que migrou de uma sociedade primitiva para a nossa. Ela seria iletrada em tecnologias digitais. Teria GRAU ZERO de letramento em tecnologias digitais.

Se os autores insistem em que não se deve usar o termo ILETRADO é porque não existe GRAU ZERO de letramento em SOCIEDADES LETRADAS, não? Ou que a aplicação deste termo (iletramento) é tão improvável, tendendo a zero, e portanto raramente seria usado.

Acho que temos de enfatizar que ningúem é um ILETRADO ABSOLUTO.
O termo é SEMPRE RELATIVO a um conhecimento específico.

Vamos rever o comentário que gerou a "polêmica":

Para Leda Verdiani Tfouni, o termo “iletrado”, bem como “iletramento” é impraticável, no que diz respeito à sociedades tecnologizadas.

Quando você disse que sua mãe é completamente iletrada em tecnologias digitais, eu disse que discordava. Que talvez, por viver em sua sociedade dominada por estas tecnologias, sua mãe pudesse ter um grau mínimo de letramento. Penso que é um bom exemplo do que falam as autoras nos textos citados.


Letramento: você Pratica? http://www.eduquenet.net/letramento.htm
"LETRAR É MAIS QUE ALFABETIZAR" http://intervox.nce.ufrj.br/~edpaes/magda.htm

2 comentários:

Paulo C. S. Ventura disse...

Lendo o texto com as frases de Leda Tfouni, fica clara a compreensão da inexistência do iletrado total nas sociedades tecnologizadas. Encerra-se a questão?

Anônimo disse...

por mim, sim.

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