5.07.2006

Influência do nome do artefato tecnológico sobre seu uso social e aceitação cultural

Segunda entrevista: Adriana Souza e Silva, doutrora em Comunicação e Cultura - UFRJ.

PESQUISADORA DEFINE O PERFIL DOS USUÁRIOS DE CELULAR NO MUNDO

Por que no Brasil e nos Estados Unidos o celular é associado à tecnologia (celular) e não ao seu aspecto de mobilidade?


O nome que se dá à tecnologia está relacionado ao seu uso social e à aceitação cultural. Nos países onde o celular possui maior índice depenetração, o aparelho adquiriu nomes que nãoestão relacionados à tecnologia, mas à relaçãohumana com o aparelho.

Por exemplo, os finlandeses o nomeiam kännykkä ou känny, o que se refere a uma extensão da mão. Também na Alemanha, um telefone celular é um handy. Em espanhol, chama-se le movil. A pesquisadora Sadie Plant notou, em um relatório para a Motorola, que em árabe, é chamado de el mobile, mas, geralmente, um telefone sayaar, ou makhmul (ambos os quaisse referem a carregar). Na Tailândia, é um moto. No Japão, é keitai denwa, um telefone transportável ou simplesmente keitai ou mesmo apenas ke-tai.Na China, é sho ji, ou ‘máquina de mão’. É interessante observar que o uso do celular nesses países não se restringe apenas à fala, incluindo mensagensde texto, jogos, internet e serviços de posicionamento. O uso como telefone, nesses casos, é geralmenteo menos importante.

A passagem do ‘telefone celular’ para um telefone ‘móvel’ ou ‘transportável com a mão’ evidencia a transformação de um aparelho tecnológico para um acessório pessoal.

E o que significa esta mudança?

A mudança de nomenclatura representa o momento em que a tecnologia não é mais considerada apenas uma ferramenta, mas se torna parte da personalidade e da identidade do sujeito. Nos Estados Unidos, o telefone celular é basicamente usado como um segundo (ou terceiro) telefone. No Brasil, apesar de ser muitas vezes o único telefone, o celular ainda é um aparelho para falar. Além disso, tecnologicamente, o Brasil (e a maioriados países da América Latina) seguiu os Estados Unidos, só recentemente investindo na tecnologia GSM, que é o padrão europeu.

Como a miniaturização das interfaces vaiinfluir no desenvolvimento dos celulares?

A miniaturização representa maior portabilidadee, conseqüentemente, uma relação mais “natural” com a tecnologia. O design também determina como e por qual público alvo essa tecnologia será usada. Por exemplo, no início, os celulares japoneses foram desenhados para caber no bolso da camisa dos executivos, sendo finos, longos e com telas pequenas. Além disso, os telefones eram, em sua maioria, cinzas e pretos, visto que deveriam ser ferramentas de comunicação neutras. Algum tempo depois, quando novos produtores chegaram ao mercado,se depararam com a necessidade de venderem algo diferente e, então, surgiram os telefones com flip. Para a surpresa de muitos, esses modelos com flip atraíram rapidamente as meninas, pois cabiam facilmente nas bolsas de mão. Além disso, a possibilidadede telas maiores facilitou a digitação de e-mails. O que aconteceu em seguida foi uma mudança do público consumidor: de executivos para adolescentes e, mais tarde, para um público mais variado. Hoje, os modelos com flip são os mais vendidos no mercado japonês. Algumas empresas, como a NTT DoCoMo, no Japão, e a Samsung, na Europa, estão investindo em pesquisa para tornar ocelular mais “vestível” (wearable), desenvolvendo modelos que podem ser usados como relógios depulso. Se pensarmos na ubiqüidade dos relógios depulso hoje em dia, é possível prever que a relação com o celular pode ser tornar tão ou mais natural, passando a ser um elemento embutido na vida cotidiana,ou seja, uma interface transparente.

Como o Paulo bem colocou em sala e em outros blogs: a tecnologia celular no Brasil encontra-se ainda na fase de APROPRIAÇÃO.

Mas acredito que é um nível bem básico de apropriação, ou talvez, seria correto dizer, em um estágio incial do processo de apropriação, mais avançado que ALFABETIZAÇÃO tecnológica mas um pouco distante do DOMÍNIO.

No estágio de domínio, seria possível a REAPROPRIAÇÃO Tecnológica - um indicador de letramento tecnológico e de cultura tecnológica.

Vejam que não concordo mais com a relação direta entre ALFABETIZAÇÃO e APROPRIAÇÃO.

Agora, vejo a ALFABETIZAÇÃO como uma condição para a APROPRIAÇÃO, embora não seja garantia de que esta ocorra.

Em síntese, continuo entendendo a relação entre os 4 conceitos desta forma:

A alfabetização tecnológica conduz ao letramento tecnológico (embora deva ocorrer simultaneamente à primeira) que caracteriza uma cultura tecnológica.

Em uma cultura tecnológica não é possível existirem sujeitos iletrados, embora possam existir analfabetos tecnológicos.

A apropriação não é conseqüência da alfabetização tecnológica, embora esta seja condição essencial para que o processo de apropriação tecnológica seja inciado.





Nenhum comentário:

Para saber das novidades, ASSINE este blog.