5.02.2006

PESQUISA: O que o brasileiro pensa da ciência e da tecnologia ?


Pesquisa de opinião, em nível nacional, sobre o que o brasileiro pensa a respeito da Ciência e da Tecnologia, realizada nos meses de janeiro e fevereiro de 1987, encomendada ao Instituto Gallup pelo Cnpq (Instituto Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e publicada sob o título "O que o brasileiro pensa da ciência e da tecnologia ? (a imagem da ciência e da tecnologia junto à população brasileira)".

Os dados deste trabalho demonstram que 70% da população urbana do Brasil lia sobre ciência e tecnologia, 31% afirmou gostar muito do assunto e 20% dos adultos declararam trabalhar em alguma área correlata.

Uma das perguntas era se os órgãos de comunicação noticiavam, satisfatoriamente, as descobertas científicas e tecnológicas, e o observado foi que 70% dos entrevistados consideram insuficientes os dados divulgados. A conclusão do Instituto Gallup foi que, apesar do grande interesse manifestado, os avanços científicos e tecnológico estão distantes da vida diária das pessoas. Para elas, a ciência tem relação com as coisas que estão muito além da compreensão.



DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA Que país é esse? Que ciência é essa?
Mônica Macedo

Os americanos, ao contrário dos brasileiros, estão constantemente empenhados em saber o que o público pensa da ciência e da tecnologia. Desde 1979, a National Science Foundation (NSF) faz pesquisas regulares de opinião junto à população para aferir o interesse por C&T e o conhecimento de conceitos científicos. No Brasil, dispomos de uma pesquisa feita em 1987, pelo Instituto Gallup, a pedido do CNPq e publicada sob o título "O que o brasileiro pensa da ciência e da tecnologia". De lá para cá, nada do mesmo porte foi feito.
No país das estatísticas, a mais recente pesquisa da NSF, publicada em julho pela revista Nature e também noticiada pelo jornal Notícias Fapesp, mostra que a porcentagem de americanos que demonstram interesse em ciência e tecnologia cresceu nos últimos anos, de 61%, em 1992, para 70%, este ano. Ciência supera, inclusive, temas dominantes do noticiário cotidiano, como política e economia. Para Jon Miller, um dos coordenadores da pesquisa, isso se deve, em parte, à ampla cobertura jornalística nessa área.


Deduz-se daí que a cultura científica do americano seja grande ou, pelo menos, razoável, pois trata-se de uma população que lê regularmente sobre o tema, certo? Errado. Ao mesmo tempo que a maioria dos americanos mostra interesse pelo noticiário científico, apenas 11% sabem explicar o que é uma molécula, 44% sabem que elétrons são menores que átomos e, pasmem, apenas 45% sabem que a Terra leva um ano para dar a volta em torno do Sol; o restante acredita que ela o faz em um dia.

Se fizéssemos a mesma pesquisa no Brasil, incluindo nossos mais de 16 milhões de analfabetos, certamente o desconhecimento seria maior. Mas o que nos interessa nos resultados da pesquisa da NSF é outra questão. Que tipo de cobertura jornalística é essa que desperta grande interesse público na ciência e na tecnologia, mas mantém os leitores na ignorância de conceitos forjados pela ciência séculos atrás?

A resposta ao problema talvez esteja nas prateleiras do supermercado da imprensa, conforme expressão do jornalista Carlos Tautz, em artigo ao Jornal da Ciência da SBPC (11/9/98). A imprensa explora a "descoberta" e o "inédito" na ciência, oferecendo ao leitor a notícia científica da mesma forma que se oferece um pacote de arroz na prateleira do supermercado, um produto pronto para o consumo. Por outro lado, como bem nota Tautz, os próprios cientistas também colaboram para mediocrizar a ciência, ao perseguirem incondicionalmente o prestígio pessoal e desprezarem outras formas de conhecimento.

Já há algum tempo a ciência vem reconhecendo o equívoco de se ter pretendido um saber todo-poderoso, que seria capaz de dar resposta a todos os problemas da humanidade. Estamos vivendo o momento de superação dessa visão mas, em grande parte, cientistas e jornalistas ainda não nos demos conta disso. Fazer ciência não é descobrir as leis da natureza. Comunicar não é meramente transmitir informações. Nos resta o desafio de criar uma alternativa à divulgação tradicional, discutir o papel da ciência e prestar mais atenção a saberes e sujeitos até agora menosprezados, tanto no processo científico quanto jornalístico. Ou então, não nos surpreenderemos com resultados como os da pesquisa da NSF, que continuarão a se repetir.

http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/ofjor/ofc200998b.htm


ELER disse:

Pelo visto, os jornalistas são competentes em atrair e seduzir o homem comum para o assuntos Ciência e Tecnologia, mas o processo de ENGAJAMENTO não se completa. Limita-se
à fase de ATENÇÃO inicial. Uma experiência engajante, para ser completa deve passar por pelo menos três estágios: atenção, engajamento e conclusão. E até prolongar-se em outras experiências complementares. No entanto, penso que, no propósito de aproximar-se deste sujeito comum, os cientistas devem aliar-se aos profissionais de comunicação, porque o processo de aculturação tecnológica e científica pressupõe o diálogo, e este, a linguagem comum, a interação.




2 comentários:

Paulo C. S. Ventura disse...

ENGAJAMENTO. Essa é a palavra chave, talvez, para que os processos de alfabetização e letramento científico e tecnológico, e seus resultados (????), mais educação científica e tecnológica, tenham sucesso. QUESTÃO DE PESQUISA, Denise.

D. disse...

Sim, ENGAJAMENTO esta é a palavra-chave da minha pesquisa.
O que envolve questões muito interessantes: sedução, estética, conexões emocionais, prazer, motivação.

Suas aulas me ajudaram muito a rever minhas intenções iniciais.
Estou muito atraída pela possiblidade de desenvolver um projeto de pesquisa no tema Educação Tecnológica e/ou Educação Científica.

Antes eu estava focando em Educação simplesmente. Agora tudo está mais claro e estou me apaixonando novamente.

Estou pesquisando muito, ainda de forma ampla.

Ontem recebi o livro O AMOR PELA ARTE.

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